Destaque do Brasil na quadra dura e no saibro neste ano, João Fonseca vai encarar a temida grama de Wimbledon pela primeira vez na carreira nesta segunda-feira. O jovem brasileiro de 18 anos, que vem se acostumando com os feitos de precocidade, pode fazer história no palco onde já brilhou Maria Esther Bueno, rara exceção do tênis nacional a se destacar no sagrado gramado do Grand Slam britânico.
Fonseca iniciará sua trajetória na chave principal de Wimbledon contra o local Jacob Fearnley, 51º do ranking. O brasileiro, portanto, deve ter torcida contra no All England Club, após fazer a festa da torcida brasileira em Roland Garros e encantar parte do público francês com sua sólida campanha, até a terceira rodada.
"Sei que haverá algumas semanas ruins. Nas primeiras semanas no saibro, não joguei meu melhor. Depois, em Roland Garros, comecei a jogar muito, muito melhor", afirmou Fonseca ao jornal inglês The Guardian. "Sei que tudo é possível. Posso perder na primeira rodada. Posso ganhar o torneio. Só preciso me concentrar em cada partida. Espero conseguir fazer coisas boas."
O carioca tem duas vitórias em dois jogos contra Jacob Fearnley no circuito. E, apesar de enfrentar também a torcida local, pode ser considerado o favorito para o duelo. Se mostrar seu melhor tênis e vencer, Fonseca fará história do tênis nacional. Ele se tornará o mais jovem do Brasil a faturar uma vitória em Wimbledon na chamada Era Aberta do tênis, que começou em 1968.
Com 18 anos e 10 meses, Fonseca se tornaria ainda o quarto mais jovem do tênis brasileiro a vencer na grama londrina em todos os tempos, ficando atrás apenas das lendas Ronald Barnes (17 anos e 5 meses), José Edson Mandarino (18 anos e 3 meses) e Maria Esther Bueno (18 anos e 9 meses).
Fonseca chega ao aguardado torneio britânico com pouca experiência na grama. No ano passado, em sua primeira temporada como profissional, caiu logo na primeira rodada do qualifying, a fase preliminar. Desta vez, estreará direto na chave principal, por estar entre os 100 melhores do mundo.
A quase inexistente trajetória em Wimbledon pode ser compensada por uma estratégia inteligente de sua equipe no ano passado. Na ocasião, Fonseca subia a largas passadas no ranking da ATP. Mas seu time preferiu conquistar experiência em pisos onde o jovem brasileiro praticamente não tinha jogado ainda, em detrimento de somar pontos em competições onde certamente Fonseca se destacaria.
Assim, ele pôde testar seus poderosos golpes na grama de dois torneios de nível Challenger, abaixo das competições da ATP, antes de Halle e o quali de Wimbledon. Neste ano, voltou ao evento da Alemanha e jogou em Eastbourne para ganhar cancha na superfície mais rápida do circuito.
A estratégia faz todo sentido do ponto de vista histórico do tênis nacional. Os brasileiros sempre tiveram dificuldades na grama em razão da falta de quadras do tipo em solo nacional. Até mesmo gênios do tênis nacional, como Gustavo Kuerten, não conseguiu chegar a uma final de Wimbledon quando estava no auge. Seu melhor resultado foi as quartas de final de 1999, quando perdeu para o americano André Agassi.
As exceções são a própria Maria Esther Bueno e o duplista Marcelo Melo, ainda na ativa. A primeira levantou oito troféus em Wimbledon, sendo três de simples e cinco em duplas, além de ter disputado 14 finais no total. Melo foi campeão nas duplas masculinas em 2017. Aos 41 anos, o ex-número 1 do mundo fará sua 18ª participação no torneio inglês neste ano.
Outra exceção é Beatriz Haddad Maia, que deve fazer sua estreia na terça-feira. A número 1 do País e 20ª do mundo no ranking a ser atualizado nesta segunda alcançou as oitavas de final em 2023. Poderia ter ido mais longe não fosse as dores nas costas, que causaram um abandono precoce na partida que valia vaga nas quartas.
Neste ano, Bia estreará contra a eslovaca Rebecca Sramkova. As duas tenistas já se enfrentaram seis vezes no circuito, com vantagem para a brasileira, dona de quatro vitórias. O último jogo, porém, foi vencido pela atual 36ª do mundo, no fim de fevereiro deste ano, sem perder set.
Após muita oscilação e sequências negativas na primeira metade do ano, Bia esboçou reação nas últimas semanas ao entrar na temporada de grama. Até agora, são três vitórias e três derrotas sobre o piso mais rápido do circuito, com jogos de alto nível contra adversárias experientes e do Top 10.