SP Open aposta em promessas do tênis para se firmar a longo prazo: 'Mercado gigantesco'

Por Felipe Rosa Mendes - 21/08/2025 08:00

Depois do sucesso do tênis masculino no Rio Open, chegou a vez das mulheres no SP Open. Responsável pelos dois torneios profissionais, o diretor Luiz Fernando Carvalho quer replicar na capital paulista o que deu certo no Rio em 11 edições bem-sucedidas. E projeta caminho semelhante, de trajetória de longo prazo, apostando tanto no "mercado potencial gigantesco" de São Paulo quanto nas promessas do tênis feminino nacional.

A primeira edição do SP Open será disputada entre os dias 6 e 14 de setembro, nas quadras do Parque Villa-Lobos, local acostumado a receber torneios de tênis nas últimas décadas. Será a primeira competição de nível WTA na capital paulista em 25 anos. O torneio é um WTA 250, abaixo dos WTAs 500, 1000 e dos Grand Slams na hierarquia do circuito feminino.

Apesar de estar na base da pirâmide da WTA, o torneio paulistano deve estrear em alto nível, por contar com todo o know-how da IMM, empresa responsável pelo Rio Open. "A equipe de organização é praticamente a mesma, os processos são tão semelhantes que às vezes a gente esquece que esta é apenas a primeira edição do torneio", afirmou Carvalho, em entrevista ao Estadão.

O SP Open será menor em tamanho e capacidade de público (68 mil contra 35 mil, no total) do que o torneio carioca. Por outro lado, terá maior estrutura temporária, um dos desafios da organização. "Na prática, temos apenas as quadras do parque. Precisamos crescer do zero todo o resto, tanto a parte dos atletas, serviços, contêineres. Mas, no geral, a operação será mais simples", explica Lui, como é mais conhecido.

O maior desafio da organização será dar vida longa ao torneio. No Brasil, as últimas investidas da WTA, a entidade que rege o tênis feminino no mundo, não foram bem-sucedidas. Na década passada, foram duas tentativas frustradas. A primeira, em Florianópolis, contou com quatro edições (2013 a 2016). Ao mesmo tempo, o próprio Rio Open contou com uma chave feminina, entre 2014 e 2016.

Com o SP Open, Carvalho projeta uma história diferente. "Tudo o que a IMM faz é sempre a longo prazo. Então, temos um entendimento de que o que acontecer neste ano é um grande experimento que continuarmos a desenvolver a plataforma. Óbvio que temos como vantagem a experiência de 11 anos de Rio Open."

Ele conta também dois trunfos: o mercado paulistano e o futuro do tênis nacional. "O mercado de São Paulo tem um potencial gigantesco. Temos marcas patrocinando, pessoas comprando ingressos (quase todos esgotados), a mídia divulgando. E temos as jogadoras", afirma, em referência a duas promessas do esporte nacional.

Trata-se de Nauhany Silva e Victoria Barros, ambas de 15 anos. As duas jovens tenistas são consideradas o futuro do tênis feminino brasileiro, sucessoras naturais de Beatriz Haddad Maia. Não por acaso, receberam convites para estrearem numa chave principal de um torneio WTA 250, algo raro com essa idade. A organização do SP Open acredita que a oportunidade pode ser um divisor de águas na carreira delas.

"Acreditamos que elas vão se desenvolver, vão concretizar todo esse sonho que temos sobre elas. Podem virar fenômenos, esperamos que entrem no Top 100 do ranking com 18 anos. Sabemos que é difícil depositar todo o 'business' em cima delas. Mas é natural que seja criada uma certa expectativa, principalmente por estarmos vendo o que está acontecendo com o João Fonseca", diz Carvalho, em referência ao furor que Fonseca causou no Rio Open deste ano, mesmo sendo eliminado na estreia. "Sei que estamos sendo um pouco precoces aqui, mas a gente já está olhando para o futuro."

Enquanto a dupla ainda se desenvolve, o SP Open volta suas atenções para Bia Haddad, atual número 20 do mundo, e para Laura Pigossi e Luisa Stefani, medalhistas olímpicas nos Jogos de Tóquio, em 2021. Bia e Pigossi estarão garantidas na chave principal de simples. Luisa vai jogar nas duplas, sua especialidade.

AUSÊNCIA DE MEDALHÕES

O SP Open não contou com a sorte em seu planejamento inicial para a chave. Sua grande aposta, a tunisiana Ons Jabeur, desistiu do torneio e se afastou do circuito temporariamente para cuidar da saúde mental. A africana foi três vezes vice-campeã de Grand Slam e se encaixava perfeitamente no perfil estabelecido pela organização, por ter histórico de conquistas e popularidade. Ao mesmo tempo, não tem ranking alto - uma série de regras da WTA impede torneios menores de contar com tenistas do alto escalão.

"Apostamos todas as fichas na Ons", admite Carvalho. "Claro que a gente respeita a decisão dela. Não tivemos sorte. Já aprendemos que, para 2026, vamos abrir mais o leque de opções. Acreditamos que, para o segundo ano do evento, vamos conseguir 'vender' melhor o evento para as tenistas."

O diretor do SP Open aponta para o "lado positivo" da desistência de Jabeur. "Sem ela, as brasileiras terão oportunidade de ir longe na chave. Podem fazer um 'Cinderella run'. Se a Naná ou a Victoria ganharem um joguinho, por exemplo, isso já pode mudar a carreira delas. Vão ganhar confiança e visibilidade."

A longo prazo, Carvalho acredita que o torneio poderá se tornar um "catalisador" do tênis feminino no Brasil. "Mais meninas podem começar a jogar tênis, mais meninas podem se tornar profissionais. Em alguns anos, podemos alcançar nosso sonho, que é ter no feminino o mesmo número de jogadores masculinos que temos no Top 200, Top 300."

MAIS CONVITES PARA AS BRASILEIRAS

No caminho para atingir esse sonho no futuro, Carvalho quer assegurar uma presença brasileira maciça no SP Open. Ele torce por sete tenistas na chave principal. No momento, são apenas quatro: Bia, Laura, Naná Silva e Victoria. No entanto, há ainda dois convites à disposição da organização.

O diretor do torneio admitiu ao Estadão que a preferência é por atletas da casa. "Sempre damos prioridade para tenistas do País. Brasileiro gosta de ver brasileiro jogar." Há também dois convites para o qualifying, a fase preliminar, a ser disputada nos dias 6 e 7. A meta é anunciar todos os nomes até o fim de agosto.