Documentário retrata lideranças femininas no futebol: 'Mulheres estão mudando o jogo'

Por Ricardo Magatti - 01/10/2025 13:25

A jornalista Fernanda Menegotto ficou intrigada quando a filha Luiza, de 9 anos, lhe perguntou por que não havia "meninas mandando no futebol". Ela não sabia, mas esse questionamento seria a origem de um documentário independente que dá destaque a histórias de mulheres protagonistas no futebol brasileiro.

"Meu filho chegou atrás dela e respondeu: 'menina manda sim. A tia Roberta manda no Fluminense'", conta Fernanda ao Estadão. Seu filho estava se referindo a Roberta Fernandes, primeira CEO de um clube de futebol, à frente do tricolor carioca entre 2014 e 2017. As gravações ocorreram em fevereiro deste ano, divididas entre Rio e São Paulo.

Roberta é uma das três protagonistas do De Virada - Bastidores e desafios do futebol, documentário produzido pela FMM e Elo Studios, com apoio de desenvolvimento da Transforma e que estreia na plataforma de streaming HBO Max em 7 de outubro.

As outras duas são Edina Alves, primeira árbitra do País a apitar um jogo de Brasileirão e a juíza brasileira com o maior número de jogos em Copa do Mundo, e Tamires, capitã do Corinthians e referência da seleção brasileira.

"No dia seguinte, procurei a Roberta e ela me contou todo esse envolvimento dela que foi puxando a história de outras mulheres, de preparadoras físicas, dirigentes. Tem grandes mulheres nesse mercado. Chegamos à conclusão que era muito importante contar essa história, sobretudo quando a Roberta me disse que é procurada por muitas meninas que querem saber como ser dirigente de um clube, ser uma liderança fora do campo", conta Fernanda, idealizadora e diretora-geral do projeto, no evento de lançamento do filme em um edifício da Avenida Paulista.

"Esse projeto nasceu de um papo dentro de casa e evoluiu para se tornar um formato para tentar mudar a cultura do esporte e mostrar que os grandes acontecimentos do futebol têm, sim, figuras femininas por trás. É um espaço prioritariamente ocupado por homens, mas vemos que as mulheres vieram para mudar esse jogo", completou Fernanda.

O documentário tem patrocínio da Amstel, que fez uma provocação nas redes sociais ao pedir a fãs de futebol que pensassem na primeira lenda do futebol sul-americano que viesse à mente. Segundo a marca, entre as 993 respostas recebidas, 99,1%, ou 984 respostas, citaram homens, enquanto somente 0,9%, ou, 9 citações, indicaram jogadoras mulheres.

"Quando a gente deixa a mulher ocupar outros espaços estamos dando liberdade para que os homens ocupem outros espaços, trazendo liberdade maior para todos", opina Sabrina Nudeliman, CEO da Elo Studios, uma das produtoras do projeto.

A ideia do filme foi acompanhar e mostrar ao longo de 71 minutos os bastidores das jornadas das três mulheres em posições de liderança no futebol. Isso inclui mostrar os sentimentos do trio aos olhares tortos e às situações desconfortáveis a que foram submetidas em um ambiente predominantemente masculino.

"Diria que nos três casos elas enfrentaram esses preconceitos e lutaram muito. Esse documentário serve de inspiração para todas as mulheres, não só jogadoras", diz Sabrina.

Roberta está no Fluminense há duas décadas. Ela entrou no clube como advogada assistente em 2005, foi promovida posteriormente ao cargo de diretora jurídica e foi CEO de 2014 a 2017.

"Tem várias meninas que me procuram, que me olham, querem saber da minha história. Quero que meus filhos sejam agentes dessa transformação. Quero que as meninas olhem pra mim e vejam que é possível sim uma mulher estar num cargo de direção do futebol", afirma ela.