Trump diz que Hamas está cedendo enquanto grupo negocia troca de reféns com Israel

Por Redação O Estado de S. Paulo* - 06/10/2025 19:04

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira, 6, que o Hamas está cedendo em questões "muito importantes" nas negociações indiretas entre o grupo terrorista e Israel para um acordo de paz na Faixa de Gaza.

"Tenho limites: se certas questões não forem atendidas, isso não vai acontecer", afirmou Trump a repórteres no Salão Oval, quando questionado se havia imposto condições, como o desarmamento do Hamas, para selar a paz.

"Acho que estamos indo muito bem e que o Hamas está concordando com coisas muito importantes", ele acrescentou.

Trump expressou otimismo sobre o futuro das negociações indiretas no Egito para encerrar a guerra, de acordo com seu plano de 20 pontos. "Acho que vamos chegar a um acordo", embora "eles estejam tentando há anos e anos chegar a um acordo... vamos chegar a um acordo sobre Gaza, tenho quase certeza, sim", afirmou o republicano.

O presidente americano também negou relatos de que criticou o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu por sua visão pessimista em relação ao resultado das negociações.

Sob pressão para encerrar a guerra em Gaza após dois anos brutais de combate, negociadores de Israel e do Hamas se reuniram mais cedo nesta segunda-feira, 6, com mediadores no Egito para começar a discutir um abrangente plano de paz apresentado por Trump na semana passada.

Karoline Leavitt, secretária de imprensa da Casa Branca, disse na tarde desta segunda-feira que "conversas técnicas" estavam em andamento no Egito, envolvendo "partes de todos os lados".

As conversas indiretas entre Israel e o Hamas, mediadas pelos Estados Unidos, Catar e Egito, provavelmente se concentrarão em dois aspectos da proposta de 20 pontos de Trump: a troca de palestinos mantidos por israelenses por reféns capturados no ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra, e a retirada israelense de partes de Gaza.

Leavitt disse a repórteres em uma coletiva na Casa Branca que as equipes estavam no Egito para discutir essa troca. "Eles estão revisando a lista dos reféns israelenses e também dos presos políticos que serão libertados, e essas negociações estão em andamento", disse ela.

"Todos os lados deste conflito concordam que esta guerra precisa acabar, e concordam com a estrutura de 20 pontos proposta pelo Presidente Trump". As negociações, ela acrescentou, foram uma "conquista incrível".

Israel acredita que cerca de 20 reféns ainda estejam vivos em Gaza e também busca os restos mortais de outros 25. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse à Fox News no domingo, 5, que o Hamas havia "concordado com o acordo de libertação de reféns do presidente".

Segundo esse plano, os reféns serão trocados por 250 prisioneiros palestinos que cumprem penas perpétuas e 1.700 moradores de Gaza presos por Israel durante a guerra. Para cada refém cujos restos mortais forem libertados, Israel também libertará os restos mortais de 15 moradores de Gaza.

Embora o plano preveja a libertação dos reféns em até 72 horas após a concordância de Israel, isso seria logisticamente difícil, dizem especialistas. E os dois lados ainda não chegaram a um acordo sobre quais prisioneiros palestinos serão libertados.

Assim, ainda não está claro se há acordo sobre todos os aspectos do plano, conforme apresentado inicialmente.

Na sexta-feira, 3, o Hamas afirmou estar disposto a libertar os reféns. Mas o grupo terrorista não abordou os principais pontos do plano de paz americano, entre eles as exigências às quais se opôs no passado. A proposta, por exemplo, pede que o Hamas se desarme e não tenha nenhum papel na governança de Gaza - ambas posições israelenses importantes que o Hamas rejeita há muito tempo.

Também permanecem dúvidas sobre a retirada das forças israelenses de suas posições em Gaza. Em uma publicação nas redes sociais no sábado, 4, Trump afirmou que Israel já havia concordado com uma linha de retirada inicial dentro de Gaza para a primeira fase do acordo.

"Quando o Hamas confirmar, o cessar-fogo entrará em vigor imediatamente, a troca de reféns e prisioneiros começará e criaremos as condições para a próxima fase da retirada", afirmou o presidente norte-americano.

Mas o Hamas ainda pode tentar negociar essas linhas.

Em negociações anteriores sobre o fim do conflito, o Hamas concordou com a retirada das tropas israelenses para uma zona-tampão perto da fronteira de Gaza com Israel. Mas o plano de Trump deixaria as forças israelenses mais profundamente em Gaza, e o Hamas sinalizou que pode se opor a alguns elementos do plano.

Em um discurso aos israelenses no fim de semana, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu tentou apresentar o plano de Trump como uma vitória. Ele disse que o cenário para um possível acordo para pôr fim à guerra havia sido preparado por sua decisão de manter a pressão sobre o Hamas com uma campanha militar devastadora, que atraiu a condenação de grande parte do mundo. Ele também citou esforços diplomáticos.

Membros da coalizão de extrema direita de Netanyahu há muito se opõem a um acordo e ameaçam dissolver seu governo se ele concordar com um. O primeiro-ministro tem procurado apaziguá-los, mas também está sob pressão de muitos israelenses que querem um acordo sobre os reféns e o fim do conflito, bem como da comunidade internacional, incluindo Trump.

O Hamas também está sob pressão para pôr fim à guerra.

Muitos palestinos em Gaza veem a proposta de Trump como sua melhor esperança após quase dois anos de extrema privação e repetidos deslocamentos. Grande parte de Gaza foi destruída, dezenas de milhares de palestinos foram mortos, incluindo milhares de crianças, e Trump afirmou que Israel terá sinal verde para destruir o Hamas se o grupo terrorista não chegar a um acordo.

Trump exigiu nas redes sociais que Israel parasse de bombardear Gaza para permitir que o acordo com o Hamas avançasse. O exército israelense instruiu suas forças a se concentrarem na defesa, restringindo as operações militares na Faixa de Gaza, de acordo com autoridades israelenses.

Os combates em terra, no entanto, continuaram. O exército israelense afirmou ter lançado vários ataques no domingo contra o que descreveu como militantes ameaçando tropas. Equipes de emergência em Gaza disseram que não conseguiram alcançar alguns dos mortos porque estavam em zonas de combate.

Israel e o Hamas mantiveram conversas indiretas intermitentes ao longo da guerra, com as negociações geralmente fracassando. Rubio admitiu no domingo que a guerra ainda não havia terminado e que havia trabalho a ser feito, mas disse que desta vez poderia ser diferente.

"O que nos dá esperança aqui é que pelo menos agora existe uma estrutura para que tudo isso possa acabar", disse ele.

Nesta segunda-feira, Leavitt se recusou a dar um prazo para as discussões, mas disse que "o governo está trabalhando arduamente para fazer a coisa avançar o mais rápido possível".

*Com agências internacionais.